O Secretário-Geral da ACAP, Helder Pedro, esteve recentemente em estúdio da NOW, onde foi entrevistado sobre a decisão da Comissão Europeia de rever a sua posição quanto ao calendário para o fim dos motores de combustão.
Durante a entrevista, Helder Pedro sublinhou que a indústria automóvel nacional e europeia sempre manifestou reservas em relação à meta de 100% de veículos com zero emissões a partir de 2035, defendendo desde o início o princípio da neutralidade tecnológica. Nesse sentido, considerou positiva a abertura agora anunciada por Bruxelas, que admite a possibilidade de, após 2035, uma quota residual de veículos com motor de combustão, desde que associados a aço de baixo carbono ou combustíveis renováveis.
O Secretário-Geral da ACAP recordou que esta posição já havia sido defendida em 2019 por alguns Estados-Membros, nomeadamente Itália, ainda que, na altura, não tenha reunido consenso suficiente. A actual revisão do regulamento representa, assim, o reconhecimento de que a abordagem inicial era excessivamente rígida e pouco ajustada à realidade industrial e tecnológica.
Não obstante, os fabricantes de automóveis ainda não podem “respirar de alívio”. Na sua análise, o pacote apresentado pela Comissão Europeia é insuficiente, sobretudo no que respeita às metas intermédias de 2030 e ao regime de penalizações associado ao não cumprimento dos objectivos de redução de emissões, que continuam a representar um risco significativo para os construtores e, indirectamente, para os consumidores.
Na entrevista, foi igualmente destacada a importância dos incentivos à aquisição de veículos eléctricos de baixo custo, bem como o papel dos Estados-Membros na criação de mecanismos de discriminação positiva que acelerem a transição energética. São necessarias políticas eficazes para a renovação do parque automóvel nacional, recordando que cerca de um quarto dos veículos em circulação em Portugal tem mais de 20 anos, com elevados níveis de emissões de CO₂.